Goblin Slayer - Volume 1 - Capitulo 1 - Parte 2

Recado do tradutor: 
Então pessoal, antes de começar gostaria de deixar algo claro. A partir de agora estarei trazendo a tradução da 3lobos, pelo simples fato de agilizar o processo, eu tava olhando e eles traduziram até o volume 2 da light novel e pelo visto pararam. Como já tem até o volume 2, seria muita perca de tempo traduzir sendo que já tem disponível. Com isso a traduções a seguir até o volume 2 são de autoria deles, estarei apenas dando um Ctrl-C e Ctrl-V. Então não se esqueçam de dar uma passada lá para apoiar, tem vários outros LN fodas lá. Então segue abaixo a leitura.
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A tocha cintilava fracamente na brisa pútrida.
O sol do meio-dia fora encoberto pela escuridão que preenchia a caverna. Na entrada era difícil de enxergar, e mais para dentro era quase preto.
As sombras projetadas das rochas brutas dançavam enquanto a chama balançava, deslizando pelas paredes como monstros em um afresco.
Três garotas e um garoto, cobertos com quaisquer peças de armadura ruins que poderiam encontrar. Em uma formação irregular, eles avançavam nervosamente através da escuridão densa. Guerreiro ia na frente, segurando a tocha. Lutadora deles estava atrás dele. Maga mantinha a retaguarda. E prensada entre a artista marcial e a maga, a terceira na fila, estava a garota com vestes de sacerdotisa, segurando seu cajado de monge ansiosamente enquanto caminhava.
Foi Maga que tinha sugerido que se deslocassem em uma fila. Desde que não houvesse caminhos ramificados, eles não teriam que se preocupar com um ataque vindo de trás. E se os aventureiros na frente se mantivessem firmes, os detrás ficariam seguros, capazes de prestar apoio da parte de trás da fileira. Esse era o plano, de qualquer forma.
— É-é realmente uma boa ideia? Ir direto até eles? — O murmúrio de Sacerdotisa não soava confiante. No mínimo, ela parecia consideravelmente mais preocupada do que estava antes de terem entrado na caverna. — Quero dizer, nós não sabemos nada sobre esses goblins.
— Céus, quanta preocupação. Acho que é exatamente o que se poderia esperar de uma sacerdotisa. — A voz de Guerreiro, um bocado ousado, ecoou no vazio da caverna até desaparecer. — Até crianças não têm medo de goblins. Raios, eu ajudei a expulsar alguns de minha aldeia uma vez.
— Oh, pare — disse Lutadora. — Matar alguns goblins não tem nada de especial. Você está se envergonhando. Além do mais — acrescentou ela, com uma voz desagradável, porém baixa — você nem os matou.
— Eu não disse isso — respondeu Guerreiro, fazendo um beicinho.
Lutadora deu um suspiro, irritada, mas de alguma forma afetuoso. — Os goblins podem picar esse perdedor como carne para o almoço, mas eu chutarei o traseiro deles. Então não se preocupe.
— Perdedor? Isso magoa! — A luz da tocha brilhava no rosto abatido de Guerreiro, mas pouco depois, ele estava erguendo alegremente sua espada. — Ei, nós quatro poderíamos lidar com um dragão se tivesse um aqui!
— Gente, não estamos ansiosos demais? — murmurou Maga, fazendo Lutadora rir. As vozes do grupo ecoaram, se misturando na caverna.
Sacerdotisa se manteve em silêncio, com medo, como se falar pudesse atrair algo da escuridão.
— Mas espero caçar um dragão algum dia — disse Maga. — Você não? — O sorriso mudo de Sacerdotisa parecia concordar com Maga e com Guerreiro assentindo. Mas a escuridão escondia uma expressão tão ambígua quanto a de Garota da Guilda.
Será mesmo?, perguntou ela a si mesma, mas não se atreveu a exprimir as suas dúvidas, mesmo que o desconforto formasse uma tempestade dentro dela.
Nós quatro poderíamos…” dissera ele, mas como Guerreiro poderia confiar plenamente em pessoas que ele conhecia não faz nem dois dias? Sacerdotisa sabia que eles não eram pessoas más, mas…
— Vocês têm certeza de que não devíamos ter nos preparados um pouco mais? — pressionou ela. — Nós nem sequer temos po-po-poções.
— Também não temos dinheiro. Ou tempo para comprar isso — respondeu Guerreiro, com bravata, sem prestar atenção ao tremor na voz de Sacerdotisa. — Estou preocupado com aquelas garotas sequestradas… E de qualquer maneira, se um de nós for ferido você pode simplesmente curar, não é?
— É verdade que tenho os milagres de cura e de luz… mas…
— Então vamos ficar bem!
Ninguém pôde ouvir Sacerdotisa dizer com uma voz ininteligível: — Mas eu só posso usar três vezes…
— É ótimo que você esteja tão confiante e tudo mais — disse Lutadora — mas você tem certeza de que não vamos nos perder?
— É um túnel longo. Como poderíamos nos perder?
— Não sei quanto a isso. Você se entusiasma tanto. Eu não posso tirar meus olhos de você nem por dois segundos!
— Olha quem fala…
Lutadora e Guerreiro, que pertenciam à mesma cidade natal, entraram em uma das discussões que eles tinham partilhado desde o início da viagem.
Sacerdotisa, seguindo atrás deles, se agarrou ao cajado com as duas mãos e repetiu o nome da Mãe Terra em um murmuro.
— Por favor, nos guie em segurança através disso…
Ela rezou tão baixinho que suas palavras nem mesmo ecoaram, só adentraram na escuridão e desapareceram.
Talvez a Mãe Terra tenha ouvido sua oração, ou talvez Sacerdotisa só tenha sido cuidadosa quando disse tais palavras.
— Vamos lá, se apresse. Mantenha a fila — repreendeu-a Maga.
— Ah, certo, desculpe…


Sacerdotisa foi a primeira a reparar.
Ela estava passando na frente de Maga, que tinha ultrapassado ela enquanto estava rezando, quando ouviu. Um som de algo se deslocando, como uma pedra rolando.
Sacerdotisa deu um arranque.
— De novo? O que foi dessa vez? — perguntou Maga com aborrecimento quando ela alcançou mais uma vez Sacerdotisa, que estava parada no lugar, tremendo.
Maga tinha se formado entre os melhores de sua turma da academia na Capital, onde ela tinha aprendido suas magias, e ela não gostava muito de sacerdotisas. A garotinha espantadiça no grupo deles fizera uma primeira impressão terrível, e desde que entraram na caverna, a opinião de Maga por ela só tinha piorado.
— A-agorinha, parecia que eu ouvi algo d-deslizando…
— Onde? Na nossa frente?
— N-não, atrás de nós…
Ah, por favor.
Isso não era cautela, era covardia. Essa sacerdotisa não tinha coragem de tomar as rédeas de sua vida como um aventureiro precisava. Guerreiro e Lutadora foram ficando mais distantes à frente, enquanto ela ficou lá. Ocupados com suas brincadeiras, os dois nem olharam para trás.
Uma luz cada vez mais distante atrás deles e apenas a escuridão se aprofundando adiante, Bruxa deu um suspiro.
— Olhe. Temos andado direto como uma flecha desde que entramos na caverna, certo? O que poderia possivelmente estar atrá… — E então, seu tom frio e exasperado…
— Goblins!!
…se tornou um grito.
Não foi um desmoronamento que Sacerdotisa tinha ouvido, mas de escavação.
Criaturas medonhas saltaram de um túnel e correram em direção a Maga, que teve o azar de ser a última da fila.
Cada mão segurava uma arma rústica, e cada rosto tinha um olhar repulsivo. Esses eram os habitantes de cavernas do tamanho de crianças.
Goblins.
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— G-g-gggg…
De repente, ela foi incapaz de encontrar sua voz, Maga levantou seu cajado com ponta de granadaque tinha recebido na formatura.
Era um milagre que sua língua contorcida conseguisse formar as palavras da magia.
— Sagitta… inflammarae… radius! — Flecha de fogo, emerja!
Conforme ela puxou cada parte da magia de onde fora gravada nas profundezas de sua memória, as palavras começaram a surgir; palavras com o poder de moldar a própria realidade.
Um raio de fogo brilhante em forma de flecha voou da granada do tamanho de um punho do seu cajado, e atingiu um goblin no rosto. Houve um chiado nauseante e cheiro de carne queimada.
Esse já era!
A vitória trouxe uma onda de alegria que deixou um sorriso extravagante em seu rosto. Maga se encheu de confiança de que se isso funcionou uma vez, funcionaria novamente.
— Sagitta… inflammarae… radiaaaaiii!!
Mas havia muitos goblins e apenas quatro membros no grupo. Antes que ela terminasse a magia, um dos inimigozinhos agarrou seu braço. Ela nem teve tempo de reagir antes que o goblin a batesse no chão irregular de pedra.
— Ouch! Ah…!
Seus óculos foram atirados de seu rosto e destruído, deixando sua visão embaçada. Um goblin arrancou rapidamente seu cajado da mão.
— E-ei! Me devolva isso! Isso não é para tipos como v-você!
Um condutor mágico tal como um cajado ou anel era um salva-vidas do conjurador, mas mais do que isso, era o seu orgulho.
Como se respondendo ao grito meio insano de Maga, o goblin segurou o cajado na frente de seus olhos e o quebrou com um crac.
O rosto de Maga se retorceu em fúria, sua máscara de indiferença desapareceu.
— Porque, seu…!
Ela se contorceu no chão, lutando contra o seu captor com seus braços fracos e com seus peitos grandes balançando. Isso não foi uma escolha sábia. O goblin irritado sacou sua adaga e a levou com muita força no estômago dela.
— Ouuuchh?! — Ela deu um grito agoniada quando a lâmina perfurou suas entranhas.
É claro, os companheiros de Maga não estavam parados, nem mesmo Sacerdotisa.
— E-ei, todos vocês! Se afastem dela! Parem…! — Ela balançou seu cajado com seus braços delicados, tentando expulsar os goblins para longe.
Existem alguns clérigos que são qualificados em artes marciais. Outros, tendo se aventurado durante muito tempo, poderiam até se gabar de uma boa dose de força física.
Sacerdotisa não era um deles.
A forma como ela estava balançando loucamente seu cajado não estava atingindo nada, de qualquer forma.
Cada vez que seu cajado de monge atingia a parede ou o chão, ele fazia um ruído de chocalho. E para o bem ou para o mau, os goblins deram um passo atrás.
Talvez a tivessem considerado uma sacerdotisa guerreira, ou talvez eles apenas tenham tido medo de ela atingir eles por pura sorte.
Seja qual for a razão, Sacerdotisa se aproveitou da abertura momentânea para afastar Maga deles.
— Seja forte! — gritou Sacerdotisa, praticamente sacudindo Maga. — Aguente firme…!
Mas não houve resposta. A mão de Sacerdotisa se afastou ensopada de sangue.
A lâmina enferrujada ainda estava enfiada no abdômen de Maga, com o rasgo brutal revelando suas entranhas devastadas.
Sacerdotisa sentiu sua garganta fechar por causa da visão horrível, a respiração de Maga saiu como um chiado tenso.
— Ah… Agh…
Mas ela estava viva. Se contraindo e convulsionando, mas viva.
Ainda havia tempo. Tinha de haver. Sacerdotisa mordeu forte os lábios.
Apertando seu cajado perto do peito, Sacerdotisa colocou a mão sobre as vísceras se espalhando de Maga, como se fosse empurrá-las de volta no lugar e recitou as palavras do milagre.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, coloque tua venerável mão sobre esta criança…
As magias podem afetar o funcionamento racional do mundo, mas Cura Menor é a genuína intervenção divina.
Conforme a oração fazia efeito, a palma de Sacerdotisa começou a brilhar com uma luz suave que pairou sobre Maga. Enquanto a luz começava a expandir, o estômago arruinado de Maga gradualmente se recompunha à normalidade.
É claro que os goblins não eram do tipo que esperariam e deixariam isso acontecer.
— Malditos! Seus goblins imundos! Como se atrevem a fazer isso com elas!!
Guerreiro tinha finalmente reparado o que se passava atrás dele e veio voando para cobrir suas companheiras, cortando seus possíveis atacantes.
Ele tinha jogado fora a tocha e agora segurava a espada firmemente com as duas mãos. Ele deu um impulso, perfurando a garganta de um goblin.
— GUIA?!
— Quem é o próximo?
Ele arrancou a espada de sua primeira vítima, apanhando o segundo enquanto se virava. Ele cortou completamente o goblin do ombro à cintura.
Com um jorro de sangue do goblin, Guerreiro deu um grande grito, embriagado pela sede de sangue.
— Então, qual o problema?! Venham e me peguem!
Guerreiro era o segundo filho de um fazendeiro, e desde sua juventude, ele tinha sonhado em se tornar um cavaleiro. Como alguém poderia se tornar um cavaleiro, ele não sabia, mas ele tinha certeza de que força era um dos pré-requisitos. Os cavaleiros nas histórias de ninar que ele tinha ouvido estavam sempre derrotando monstros, frustrando o mal e salvando o mundo. Aqui nessa caverna — batendo nesses goblins, salvando donzelas indefesas e protegendo seus amigos — ele se viu finalmente um cavaleiro.
Esse pensamento trouxe um sorriso ao seu rosto.
O poder percorria através das suas mãos, seu sangue bombeava em suas orelhas, tudo reduziu até que ele conseguisse apenas ver o inimigo diante dele.
— Espera! Você não pode lidar com eles sozinho!
Ele ainda não era um verdadeiro cavaleiro.
Quando a voz de Lutadora alcançou seus ouvidos, Guerreiro viu uma das espadas gastas enfiada em sua coxa.
— Ugh! Porque, seu…!
Foi o goblin que ele tinha cortado através do peito. A lâmina sangrenta de Guerreiro não fora suficiente para dar um golpe mortal.
Retirado da sua postura de combate, Guerreiro deu um segundo golpe no goblin, e dessa vez ele morreu sem nem sequer gemer.
Mas momentos depois, outro monstro estava chegando atrás dele…
— Tome isso! — Ele contra-atacou com a espada, mas ela atingiu a parede da caverna com uma pancada estridente.
Era o último movimento que ele faria.
A tocha que ele tinha largado no chão crepitou e apagou, e na escuridão que envolveu à sua volta, ele ficou espantado com quão alto seu grito ecoou.
Sem uma família de renome e sem dinheiro, Guerreiro tinha sido incapaz de investir em um escudo ou um elmo; ele só tinha o peitoral de placas frágil para o proteger. Ele não tinha meios de se salvar dos golpes viciosos dos goblins.
— Não… não pode ser!
Lutadora não conseguiu chegar ao inimigo a tempo. Enquanto observava o jovem por quem tinha tanto apreço morrer, ela ficou pálida e imóvel.
Tudo o que ela podia fazer era formar suas duas mãos trêmulas em punhos e tomar uma posição de combate.
— Vocês duas, corram.
— M-mas…! — Sacerdotisa protestou debilmente, mas ela sabia que seria inútil. Apesar dos cuidados de Cura Menor, Maga em seus braços mal estava responsiva, sua respiração era curta e superficial.
A horda de goblins estava se aproximando, fixada em suas presas restantes. Eles ainda estavam cautelosos com Lutadora, mas eles avançariam sobre ela em pouco tempo.
Sacerdotisa olhou para Maga e Lutadora, e depois olhou horrorizada para os goblins ainda maltratando o corpo caído de Guerreiro.
Vendo que suas companheiras ainda não tinham se movido, Lutadora estalou sua língua. Então ela deu um grito ressoante, investindo contra a multidão de monstros.
— Hi-yaaaaah!
Seus punhos e pés eram flexíveis e rápidos. Seu próprio pai tinha a treinado antes de morrer, e agora ela demonstrava a própria essência de sua arte.
Ela não morreria aqui. A arte de seu pai não podia perder para tais inimigos patéticos.
Enquanto eu viver, nunca perdoarei vocês por matar aquele garoto!
Seu coração e mente corroboraram seu treinamento quando ela levou seu punho direto no plexo solar de um goblin.
Ela empurrou seu inimigo para o lado quando ele caiu no chão vomitando, depois acertou ele com um único golpe faca de mão em seu pescoço quando ela girou.
Golpe crítico.
O golpe terrível no pescoço deixou a cabeça do goblin inclinada em um ângulo impossível quando ele desabou.
No mesmo momento, ela foi para o espaço deixado pelo seu corpo e usou o impulso para dar um chute em arco no ar à frente dela. Seu chute giratório rigorosamente controlado acertou mais dois goblins, matando eles antes que alcançassem o chão…
— O qu…?!
Mas um terceiro goblin pegou facilmente sua perna e prendeu o seu tornozelo.
O rosto de Lutadora empalideceu, e ele começou a apertar.
Os goblins deveriam ter o tamanho de crianças… não era?
— HUURRRRGH!
A criatura, cujo hálito rançoso passou por ela enquanto se contorcia, era gigante.
Ela não era uma garota pequena, e mesmo assim teve que levantar a cabeça para olhar esse inimigo nos olhos. A dor em seu pé aumentava cada vez mais até que arrancou um grito de seus lábios.
— Ahh… a-arrrrgh… me… deixe… ir-aaah!!
Com a perna de Lutadora presa, o goblin a bateu casualmente contra à parede. Houve um som distante e ríspido de alguma coisa partindo.
Lutadora desmaiou sem sequer gemer, então ela estava inconsciente quando o goblin a balançou e bateu contra a parede oposta.
— Hrr, guhhh…?!
Ela fez um som que quase não era humano, vomitando com sangue quando foi jogada no chão. Então o resto da horda se jogou sobre ela.
— Ugh! Urrgh! Ya… yaaah! Ugh!
Os goblins acertaram Lutadora com suas clavas, surdos aos seus gritos, até que arrancaram suas roupas e as jogaram para longe.
Os goblins mostraram a mesma misericórdia para os aventureiros invasores, tal como o grupo tinha a intenção de lhes mostrar.
Atormentada pela sua horrível provação, Lutadora deu um grande grito agudo, mas dentro dele, Sacerdotisa tinha a certeza de que conseguiu entender as palavras.
— Fujam! Depressa!
— Eu… eu sinto muito…!
Tampando os ouvidos para os ecos na caverna dos goblins violando sua companheira, Sacerdotisa pegou Maga e partiu em retirada, tropeçando.
Correr. Correr. Correr. Tropeçar, então se recompor e correr ainda mais.
Através da escuridão ela ia, escorregando em cada pedra, mas nunca parando.
— Me desculpe…! Me… desculpe! Por favor me… me perdoe…! — As palavras saíram dela em suspiros irregulares.
Não havia mais luz. Ela sabia que estavam sendo perseguidas cada vez mais e mais fundo na caverna, mas o que ela podia fazer?
— Ahh… ah…
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Os passos dos goblins, se aproximando cada vez mais a cada eco, era o que mais aterrorizava ela.
Parar agora seria tolice e ela não podia voltar pelo caminho que veio. Mesmo se pudesse, ela não iria ver nada mais do que tristeza.
Agora ela compreendeu a expressão ambígua da recepcionista da Guilda.
Sim, os goblins eram fracos. Seu grupo de aventureiros ansiosos — seu Guerreiro, sua Maga, sua Lutadora — sabiam disso. Goblins eram tão altos, inteligentes e fortes quanto uma criança humana. Tal como eles tinham ouvido.
Mas o que acontecia quando crianças pegavam armas, planejavam o mal, procuravam matar e viajavam em grupos fortes de dez?
Eles não tinham sequer considerado isso.
O grupo deles era fraco, inexperiente, não familiarizado com o combate, não tinha dinheiro ou sorte, e o mais importante, eles estavam esmagadoramente em menor número.
Era um erro comum, do tipo que se ouvia o tempo todo.
— Ah!
As mangas compridas de Sacerdotisa tinham finalmente se enroscado em suas pernas e ela caiu indelicadamente no chão. Seu rosto e suas mãos tinham ganhado arranhões generosos, mas muito pior, ela não conseguiu manter Maga em seus braços.
Sacerdotisa se apressou para puxá-la de volta, uma garota que nem sequer conhecia alguns dias atrás.
— E-eu sinto muito! Você está bem?!
— Ur, hrrg…
Em vez de uma resposta, saliva salpicada com sangue emergiu da boca de Maga.
Sacerdotisa esteve tão concentrada em correr, que não tinha reparado que Maga começou a tremer violentamente. Parecia que o corpo inteiro da dela estava em chamas, e suor encharcava sua capa grossa.
— Por-por que…?
Sacerdotisa destinou a pergunta diretamente para si. Sua oração não alcançou à deusa?
Afligida por essa preocupação, Sacerdotisa usou um tempo precioso para tirar as roupas externas de Maga e verificar a ferida.
Mas o milagre tinha funcionado como previsto. O abdômen de Maga estava encharcado de sangue, mas estável. A ferida tinha desaparecido.
— A-ahn, n-nessas… nessas horas, o que devo…?
Sua mente estava em branco.
Ela sabia um pouco de primeiros socorros. E ainda podia usar seus milagres.
Mas outro milagre de cura iria realmente ajudar? Havia mais alguma coisa que deveria tentar? Aliás, em seu estado miserável, ela conseguiria se concentrar o suficiente para fazer uma petição efetiva à deusa?
— Ahh? Aaahh!
O momento que ela tinha desperdiçado fora o que contava. Sacerdotisa quase desmaiou quando uma dor súbita a afligiu.
Ela ouviu um assobio — alguma coisa em alta velocidade? — e depois seu ombro esquerdo se preencheu com uma dor ardente. Ela olhou para ele e viu uma flecha enfiada no fundo de sua carne. Sangue escorria e manchava suas vestes.
Sacerdotisa não estava usando nenhuma armadura. A flecha tinha rasgado selvagemente suas roupas e adentrado sob seu ombro adorável. Os Preceitos proibiam excesso de armadura, e ela não tinha dinheiro de qualquer modo. Agora, cada pequeno movimento parecia amplificado cem vezes, e provocavam um ardor e dor como se ela fora perfurada com ferro ardente.
— Aaaaghh…!
Tudo o que ela podia fazer era cerrar os dentes, manter as lágrimas em seus olhos e olhar atenta para os goblins.
Dois monstros armados se aproximavam. Sorrisos perversos dividiam seus rostos; fios de baba se penduravam nos cantos de seus lábios.
Seria melhor se pudesse morder sua própria língua e morrer. Mas sua deusa não permitia o suicídio, e ela parecia destinada a ter a mesma sorte que seus amigos.
Será que eles a rasgariam? Ou a violariam? Ou os dois?
— Ohh… não…
Ela tremia; seus dentes começaram a ranger, impotentes.
Sacerdotisa puxou Maga para perto, usando seu próprio corpo para proteger sua companheira, mas, de repente, ela sentiu algo quente e molhado em suas pernas. Os goblins pareciam ter sentido o cheiro, e seus rostos se contorceram de nojo.
Sacerdotisa repetiu desesperadamente o nome da Mãe Terra, tentando evitar ver o que estava diante dela.
Não havia esperança.
Mas então…
— O qu…?
Nas profundezas da escuridão, surgiu uma luz.
Parecia como uma estrela da noite brilhando orgulhosamente contra o crepúsculo invasor.
Um único ponto de luz, sempre-tão-pequeno, mas vividamente brilhante, e ele se aproximava progressivamente.
A luz era acompanhada pelos passos calmos e determinados de alguém que não tinha quaisquer dúvidas sobre onde estava indo.
Os goblins olharam para trás, confusos. Seus amigos tinham deixado uma presa escapar?
E então, logo atrás dos goblins, ela o viu.
Ele não era muito impressionante.
Ele usava uma armadura de couro suja e um elmo de aço imundo. No seu braço esquerdo, um escudo estava preso e na sua mão estava uma tocha. Sua mão direita segurava uma espada que parecia ter um comprimento estranho. Sacerdotisa não pôde deixar de pensar que seu próprio grupo terrivelmente despreparado parecia mais bem preparado do que ele.
Não, ela queria gritar, se afaste! Mas o terror paralisou sua língua, e ela não conseguiu gritar. Ela estava profundamente humilhada por lhe faltar a coragem de Lutadora.
Os dois goblins se viraram para o recém-chegado, não demonstrando nenhuma relutância em mostrar suas costas para Sacerdotisa impotente. Eles lidariam com ela mais tarde. Um deles colocou uma flecha na corda do arco, puxou e disparou.
Era uma flecha rústica com a ponta de pedra. E o goblin era francamente um arqueiro terrível.
Mas a escuridão é a aliada dos goblins.
Ninguém poderia esquivar de uma flecha que voava repentinamente da escuridão…
— Hmph.
Mesmo enquanto dava um bufo escarnecedor, o homem cortou o projétil no ar com um golpe rápido de sua espada.
Incapaz de compreender a implicação do que tinha acontecido, o segundo goblin avançou na direção do homem. A criatura empunhava a única arma que carregava, outra das adagas enferrujadas dos monstros. Sua lâmina encontrou uma fenda no ombro do homem e enfiou nela.
— Nããão!
Sacerdotisa deu um grito, mas não houve outro som. O golpe do goblin fez apenas um som baixo de metal raspando metal.
A lâmina tinha sido parada pela malha sob a armadura de couro do homem.
O goblin desnorteado forçou ainda mais sua lâmina. O recém-chegado aproveitou a oportunidade.
— GAYOU?! — O goblin gritou quando o escudo do homem bateu nele com um som seco e o prensou contra a pedra.
— Você primeiro… — disse friamente o homem.
Seu significado ficou claro quando ele pegou sua tocha e a levou calmamente para o rosto do goblin.
Houve um grito insuportável e abafado. O cheiro de carne queimada preencheu a caverna.
O goblin lutou, meio enlouquecido com a dor, mas preso pelo escudo, ele nem sequer conseguia agarrar seu próprio rosto.
Finalmente, ele parou de se mover, seus membros caíram inanimadamente no chão. O homem se certificou de que o monstro estava imóvel, então puxou lentamente seu escudo.
Houve um grande humph quando o goblin tombou ao chão, com o rosto queimado.
O homem deu ao monstro um pontapé casual, rolando seu corpo, e então entrou mais fundo na caverna.
— Próximo.
Foi um espetáculo bizarro. Sacerdotisa já não era mais a única que estava aterrorizada.
O goblin com o arco deu um passo inconscientemente para trás, parecendo — compreensivelmente — disposto a abandonar seu companheiro e fugir. Coragem, afinal, é a última palavra que alguém associaria a um goblin.
Mas agora Sacerdotisa estava atrás dele.
Ela exalou abruptamente. E dessa vez, ela conseguiu se mover. Ela poderia ter uma flecha no ombro, um goblin na frente dela, suas pernas esgotadas e sua companheira inconsciente a pressionando para baixo, mas ela se moveu.
Com seu braço livre, Sacerdotisa levou o seu cajado de monge ao goblin.
Foi um gesto sem sentido. Ela não tinha realmente a intenção de o fazer, agiu por instinto.
Mas foi mais que suficiente para fazer o goblin parar por um instante.
Naquele instante, a criatura pensou mais freneticamente sobre o que fazer do que ele alguma vez o fez em toda sua vida. Mas antes que ele pudesse tomar uma decisão, sua reação incompleta se chocou contra a parede de pedra, impulsionado pela espada que o guerreiro armadurado tinha lançado através dele.
Metade da cabeça do goblin permaneceu na parede. A outra metade com o resto dele, desabou no chão.
— Já são dois.
A luta brutal terminou, ele pisou com sua bota no cadáver do goblin morto.
Ele estava manchado com o sangue carmesim do monstro, do seu elmo de aço sujo e armadura de couro, até a malha feita de anéis metálicos encadeados que cobriam todo o seu corpo.
Um pequeno escudo surrado estava fixado em seu braço esquerdo, e em sua mão, ele segurava uma tocha queimando intensamente.
Com seu calcanhar contra o cadáver da criatura, ele abaixou sua mão livre e retirou casualmente a espada de seu crânio. Era uma lâmina de aparência barata, com um comprimento mal concebido, e agora estava encharcada de cérebro de goblin.
Deitada no chão com uma flecha no ombro, o corpo magro de uma menina tremia de medo. Seu clássico rosto adorável e doce, emoldurado pelos longos e quase translúcidos cabelos cor de ouro, estava franzido com uma junção de lagrimas e suor.
Seus braços magros, seus pés; todo seu corpo deslumbrante estava com as vestimentas de uma sacerdotisa. O som do cajado de monge que ela agarrou ressoou, com seus anéis pendurados batendo uns contra os outros com suas mãos tremendo.
Quem era esse homem diante dela?
Tão estranha era sua aparência, a aura que o ocultava, que ela imaginava que ele pudesse ser mesmo um goblin, ou talvez algo muito pior, algo que ela ainda não tinha conhecimento.
— Que-quem é você…? — perguntou ela, suprimindo seu terror e dor.
Após uma pausa, o homem respondeu: — Matador de Goblins.
Um assassino. Não de dragões ou de vampiros, mas o mais simples dos monstros: goblins.
Normalmente, o nome poderia parecer comicamente simples. Mas para Sacerdotisa, naquele momento, era tudo, menos engraçado.
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